imagens e sombras de santa maria madalena na literatura e arte portuguesas

- a construção de uma personagem: simbolismos e metamorfoses - helena barbas - fev.2003

 

[] Eloy de Sá Sotomayor, 1607

 

As Lágrimas de Madalena - Soneto 23 [1]

 

Qual, antes que o Sol saya, a fresca Aurora

Que por dar graças às flores,& boninas

Borrifando-as de gotas chrystallinas

Nellas da graça sua se namora

 

5       Tal Magdalena Sancta pecadora

Cujas flores são já graças divinas

Porque de mayor graça sejão dignas,

As appura nas lágrimas, que chora:

 

E se, chegando o Sol, enxuga as flores,

10    Que molhadas sem côr então se vêm

Porque esmaltadas fiquem de mil cores;

 

Ia as lágrimas ao sol parecem bem,

Pois enxugandoas Christo, são melhores,

Que quantas flores toda a terra tem.

 


[1] In Jardim do Ceo Dirigido a Deos Nosso Senhor. (Lisboa: na Officina de Vicente Alvarez, 1607);