imagens e sombras de santa maria madalena na literatura e arte portuguesas - a construção de uma personagem: simbolismos e metamorfoses - helena barbas - fev.2003 |
Mote:
Que pode ser, se não é,
Madalena, pois, assim
Brilha senão Serafim.
Sol, Estrela, Rosa ou quê?
Madalena a quem amor
De tal sorte faz arder
Que tem deixado de ser,
Quem era antes deste ardor.
5 Se não é Sol, nem é flor
Se nela já se não vê
Nada de humana (porque
de humana já degenera),
Deixando de ser quem era,
10 Que pode ser se não é?
Eu digo que é tanto já
Depois que deixou de ser.
Que é Serafim, pois no arder
Igual com eles está:
15 E que com razão terá
O lugar de Serafim:
Que, se eles ardem sem fim
No fogo do amor Divino.
Arde também de contino
20 Madalena, pois, assim.
Pelo que chega a ser tanto
Que, absorta na luz mais pura,
É no ardor e formosura
Serafim que causa espanto.
25 Os que prodigio tão santo
Admirados, vêm assim
Chamam-lhe Rosa e Jasmim;
Outros Sol, que está brilhando,
mas nada parece, quando
30 Brilha, senão Serafim.
Com tudo que é Sol, e Estrela
Rosa e Jasmim dizem todos,
Porque por diversos modos
É unicamente bela.
35 Serafins, que vedes nela
Tudo o que o Mundo não vê,
Para que aplauda o que é
Com a voz e com a pena,
Dizei-me se é, Madalena.
40 Sol, Estrela, Rosa ou quê?