imagens e sombras de santa maria madalena na literatura e arte portuguesas - a construção de uma personagem: simbolismos e metamorfoses - helena barbas - fev.2003 |
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Frei Braz Trocado Venauto, 1747
À Fenis da Penitência - Soneto
Do mesmo autor - pelos mesmos consoantes
À Fenis da Penitência - Soneto [1]
Entre as ondas, que move o sentimento,
Pulsa da Magdalena o peito afflicto;
E nos mesmos estragos do co(n)flicto
Facilita melhor um novo alento.
5 Sepultado no golfo do lamento
Deixa o torpe cadaver do delicto,
Emplumando no tremulo districto
A vida de um feliz merecimento.
Negue-se à Fenis, pois, aquele espa(n)to
10 De fazer-se a si propria mãy, e filha;
Que há outra de mais alta preminência.
Fertilizar o incendio com o pranto
Não o alcança da Arabia a maravilha,
Consegue-o a Fenis da Penitência.
Do mesmo autor - pelos mesmos consoantes
Não temas, oh mortal, o se(n)timento,
Que teu peito penetra quando afflicto,
Que para triunfar neste conflicto
Te infunde a Magdalena hum forte alento.
5 Se pertende afogar-te no lamento,
Que faz correr a dar do teu delicto,
Não receves a penna em hum destricto,
Donde achou gloria o seu merecimento.
Chegate áquelles Pés que com espanto
10 Ella abraçou; chorando como filha
De amor que lhe deo tal preeminência.
Que se o teu fogo for como o seu pranto,
Renovarás como Aguia a maravilha
Que de tal Fenis conta a penitencia.
[1] apud. F. A. da Assumpção, Vida Da Fenis Da Penitencia S. Maria Magdalena, Assombro Dos Desertos e Exemplar Dos Anacoretas. Historia Panegyrica Ornada Com Todo o Genero de Erudiçäo Divina e Humana. Oferece-a a Jesus Christo Crucificado, Seu Autor.. Da Sagrada Ordem Dos Pregadores (Lisboa: Na Off. Alvarense, 1747).