imagens e sombras de santa maria madalena na literatura e arte portuguesas

- a construção de uma personagem: simbolismos e metamorfoses - helena barbas - fev.2003

 

[] Francisco de Meneses, 1885

 

Esposa Mística [1]

 

Quando Christo morreu a alegre natureza

De repente vestiu um luto rigoroso,

E escureceu do Sol o disco luminoso

Um sombrio bulcão pejado de tristeza.

 

5       A terra estremeceu. Na murmura deveza

As aves entoando um psalmo doloroso,

Vão enchendo de sons o espaço tenebroso

Em quanto uma alma ascende ao ceo - toda pureza.

 

Abraçada ao madeiro infame do martyrio

10     A Mãe pranteia o filho absorta em funda mágua,

E de lágrimas cobre o rosto de um lírio.

 

Geme, solluça, chora a humanidade toda:

Maria Magdalena, os olhos razos de água,

Olha em êxtase o ceo e crê na etherea boda.

 

[]


[1] In Repúblicas - Revista Política e Literária 22 (1º Anno, 2 de Maio), pp.7;