imagens e sombras de santa maria madalena na literatura e arte portuguesas

- a construção de uma personagem: simbolismos e metamorfoses - helena barbas - fev.2003

 

[] Xavier de Carvalho, 1889

 

As Impuras [1]

 

Algumas delas são d'um loiro vivo e forte,

Braços esculturais e a carne branca e ardente...

Não têm pai nem mãe! e caminham sem norte,

De miséria em miséria, a rir, cinicamente.

 

5       Outras vivem chorando o seu viver doente

Ao vento, à chuva, ao frio, à neve, ao crime e à sorte!

Pobres almas sem luz consoladora e quente,

Buscando a cada instante os hospitais e a morte.

 

Causa-nos pena, enfim, ver esses tristes lírios,

10     Procurando esquecer os mais cruéis martírios

E entregando a quem passa os últimos encantos.

 

Coração da mulher, eterna Primavera!

Marion Delorme eu choro a tua dor sincera...

Oh! Madalena, eu beijo teus cabelos santos...

 

[]

 


[1] In Poética do Simbolismo em  Portugal, Fernando Guimarães (ed.), (Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1990), pp.147;