imagens e sombras de santa maria madalena na literatura e arte portuguesas

- a construção de uma personagem: simbolismos e metamorfoses - helena barbas - fev.2003

 

[] Camilo Pessanha,1890

 

Madalena [1]

 

"...E lhe regou de lágrimas os pés,

e os enxugava com os cabelos da sua cabeça." Ev. de S. Lucas

 

Ó Madalena, ó cabelos de rastos,

Lírio poluído, branca flor inútil,

Meu coração, velha moeda fútil,

E sem relevo, os caracteres gastos,

 

5       De resignar-se torpemente dúctil,

Desespero, nudez de seios castos,

Quem também fosse, ó cabelos de rastos,

Ensanguentado, enxovalhado, inútil,

 

Dentro do peito, abominável cómico!

10     Morrer tranquilo, - o fastídio da cama.

Ó redenção do mármore anatómico,

 

Amargura, nudez de seios castos!...

Sangrar, poluir-se, ir de rastos na lama,

Ó Madalena, ó cabelos de rastos!

 

[]

 


[1] In O Intermezzo, 2ª. série, nº3.; Ibid., pp.171;