imagens e sombras de santa maria madalena na literatura e arte portuguesas

- a construção de uma personagem: simbolismos e metamorfoses - helena barbas - fev.2003

 

[] António Patrício, 1911

 

Unge-me de Perfumes [1]

 

«Gosto tanto de ti...», dizes. É pouco.

É das tuas mãos erguidas que eu preciso.

Vê bem, amor: não é orgulho louco.

Para os outros eu sou apenas riso.

 

5       Unge-me de perfumes, minha amada,

Como certa Maria de Magdala

Ungiu os pés d'Aquele cuja estrada

Só começou para além da vala.

 

Ama-me mais ainda, ó meu amor

10     Como aquela mulher ungiu o Cristo

Unge o meu corpo todo, a minha dor...

 

Ela ungiu-o p'ra o túmulo, p'ra a Cruz.

Unge-me teu, p'ra o Sol por quem existo:

Viver é ir morrendo a beijar a luz.

 

[]

 


[1] In A Águia, nº.10, 1ª. série. Ou, Poesia Completa, (Lisboa,: Assírio & Alvim, 1990), pp.179;