imagens e sombras de santa maria madalena na literatura e arte portuguesas

- a construção de uma personagem: simbolismos e metamorfoses - helena barbas - fev.2003

 

[] Judith Teixeira, 1925 [1]

 

Rosas pálidas

 

Ó anémicas! ó pálidas!

Ausentou-se o sangue

Das vossas veias delicadas...

Ó sombras vagas

5Duma vida exangue!

Ó virgens aladas!...

 

Nunca pode encantar-me essa candura

da vossa serena

brancura.

10 E jamais eu tive

um amplexo de amor

em que no meu peito

se esmagasse

a vossa carne de chorosa Madalena

15 sem gritos e sem cor...

 

Ó flébeis, doentias!

- o meu olhar procura a ardência

forte e colorida

das vossas irmãs

20 rubras e sadias!...

A vida é beijada pelo sol

e ungida pela dor!

 

Deixai que o sol fecunde o vosso seio...

E que o vento vos beije

25 em convulsões brutais,

em convulsões pagãs!

A luxúria, ó pálidas irmãs,

é a maior força da vida!

Sensualisai pois! A vossa carne

30 Arrefecida...

Ó brancas, imaculadas!

Ó virgens inúteis

e decepadas...

 

[]

 


[1] In Judith Teixeira, Poemas, (Lisboa: &etc), 1966, pp. 163-64;