imagens e sombras de santa maria madalena na literatura e arte portuguesas

- a construção de uma personagem: simbolismos e metamorfoses - helena barbas - fev.2003

 

[]  António Salvado, 2001 [1]

 

Maria Madalena

 

Estava fora a chorar.

Aquele a quem conhecera

E mais amara e servira

Em ânsia ardor procurava,

5       padecendo por não vê-Lo

morto ou vivo – não sabia.

 

O seu rosto perturbado

Com sulcos de arrependida,

Essa luz que o clareara

10     Em angústia demandava.

E chorava de perdida

olhando a pedra arredada.

 

Um jardineiro lhe disse

Que ali já não se encontrava

15     Aquele por quem vertia

entre soluços as lágrimas,

e que em breve ia partir

num raio de eternidade.

 

(Por cada gota caída

20     dos seus olhos a chorarem

e no jardim semeada,

nasceram flores de Vida

que nada pode arrancar,

que nada pode delir).

 

[]

 


[1] In António Salvado, Jardim do Paço, (Coimbra/Castelo-Branco: Alma azul), 2001 (4ª. ed. aum.), pp.10-11;