Tenho o maior respeito e veneração pela ideia milenar de Universidade – e muita honra em lhe pertencer. E ela lá tem resistido apesar de nunca tantos em tão pouco tempo terem tentado tão desesperadamente dar cabo dela.
Durante a Idade Média, os estudantes-goliardos – cheios de mobilidade – cruzavam essa Europa fora em busca dos melhores professores. Estes davam aulas de pé, encostados a colunas ou paredes, com o chapéu à frente no chão. Os melhores tinham mais alunos, mais moedas no chapéu. Era simples. Seguia as leis do mercado. Fora dos mosteiros homens e mulheres estudavam nos seus bancos – como em Bolonha, desde 1088.
Hoje em dia são as faculdades institucionalizadas que procuram seduzir os alunos; mas estes não têm a liberdade de escolha medieval. Cedo são condicionados para um percurso encarrilador, sem hipótese de mudar de ideias – a não ser com custos de tempo e neurónios.
A seguir a Maio de 68 fizeram uma experiência inspiradora na Sorbonne. Os alunos com acesso ao primeiro ano entravam todos, independentemente das especializações liceais; podiam escolher o curso que desejassem, mas não podiam chumbar. Quem passasse continuava, os outros saíam. Também seguia as leis do mercado.
Agora, independentemente dos ministros, foram fundidas as universidades – ao tempo com a preocupação maior de descobrir quem seria o reitor de quê. O estado por cá – com o problema recente do excesso de professores – provou que pontifica mal nestas coisas. Há demasiados advogados e economistas. Sobrevalorizam-se as engenharias [com as STEMs]. As ciências desactualizam-se cada dois meses. Penalizam-se as humanidades por pouco úteis (esquece-se a necessidade já premente de criação de conteúdos). Dado que este[s] governo[s] assume[m] a bandeira liberal, poderiam estendê-la à Universitas, e deixar que os nativos digitais decidissem o que querem estudar e com quem.
Michael Wesch – Uma visão dos estudantes de hoje – em 2007
[retomado do blog Menagerie – Junho de 2011]