Era hoje o dia de ir de manhã pelos campos apanhar cereais e flores para fazer o ramo da espiga. É decerto uma celebração pagã, das gentes do Sul e do Sol, cristianizada, que continua a cheirar ao enxofre das Maias. É o Dia da Hora, o mais santo do ano, em que o tempo pára do meio-dia à uma: «as águas dos ribeiros não correm, o leite não coalha, o pão não leveda e as folhas se cruzam» pelo que se suspendem também todos os trabalhos humanos, diz-nos Ernesto Veiga de Oliveira. O ramo composto por malmequeres, papoilas, trigo, cevada e outras ervas, era lá em casa (mesmo na cidade) amarrado com um fio de lã vermelha e pendurado atrás da porta da cozinha. Um seguro contra a falta de pão que ficava a secar até ser substituído pelo ramo do ano seguinte.