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Ana Hatherly

“Ana Hatherly e o Barroco – Num Jardim Feito de Tinta” é o nome dado a esta exposição inaugurada a 13 de Outubro, na Fundação Calouste Gulbenkian (a ver até 15 de Janeiro de 2018). Com curadoria de Paulo Pires do Vale e colaboração de Nuno Vassallo e Silva, divide-se por blocos temáticos de confluências – atestando um «Mundo como labirinto».

A tónica principal é uma evidente e bem explícita relação com o Barroco e suas artes – os textos que Ana Hatherly exumou de arquivos, usou como mote, restaurou academicamente e explicou em termos teóricos. Para quem teve o privilégio de a conhecer (como professora, no PEN Clube Português que fundou) a emoção maior suscitada é a de respeito – pela mostra, pelas obras. O mérito superior deste pequeno e muito completo «jardim» é inspirar à revisita de outros trabalhos seus, encaminhar para uma releitura dos escritos da poeta-pintora.

A foto ficou péssima, mas maior focagem não aumentaria a legibilidade. Nestes emblemas de 1964, “s/ Título”, exibe-se uma premeditada anulação da distância entre os desenhos e as caligrafias, são ambos rabiscos e arabescos que ainda (ou já) não dizem nada (e a ausência de nome a recusar qualquer pista).

«É preciso não esquecermos que a escrita alfabética é relativamente recente e que muito antes dela já se estabelecia a comunicação por imagens» diz-nos Hatherly em «A Reinvenção da leitura» (1975:138) acessível via Arquivo Digital PO.EX. A «escrita é uma pintura de palavras». Afirma a identidade entre “ikon” e “logos”. Não para retomar a clássica «Ut pictura poiesis» (Simónides de Cós/Horácio) mas para avançar direito às novas Teorias de Informação, pelo “Tractatus” de Wittgenstein  (proposição 4.1212), pelos ideogramas: a escrita é um código em si, uma mancha tipográfica nem sempre decifrável (rompe-se a ligação entre significante e significado). Ao tornar-se ideogramática, neo-grafitismo, entra no espaço protohistórico da “litera” (etimologicamente ‘raspar’) desligada da voz humana.

Como actividades paralelas haverá conversas, aulas abertas, conferências – uma com Christine Buci-Glucksmann. A não perder.

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