Vem doente, caminha de vagar,
Que a tosse, que não tarda, vem por certo
Despedaçar-lhe o peito. E o fim é perto
E ela não tem pressa de chegar…
Umas olheiras roxas, na açucena
Tão branca, do seu rosto descorado,
Dão-lhe um aspecto triste e macerado
Duma tristeza funda que faz pena…
O nariz a aguçar-se lentamente.
Mais cavadas as faces. A macia
E linda pele que as cobre, dia a dia
Nos parece mais fina e transparente.
E que fraquito o seu corpinho exangue!
Mal pode já lutar a pobrezinha
Contra a morte que dela se avizinha
A desfazer os seus pulmões em sangue.
Os lábios entreabre numa prece,
E volve para nós os olhos puros,
— Uns olhos que se tornam mais escuros
Na palidez da face que emagrece—
«Não sei o que isto é. Esta canceira,
Uma tosse maldita, muito frio,
E depois muita febre. E um fastio.
Nada posso comer por mais que o queira
Um grande peso, aqui dentro do peito
Que nem posso tomar respiração .
Certamente é qualquer constipação!»
E esboçou um sorriso contrafeito.
Numa anciedade cheia de agonias
Ela espera a mentira piedosa
Que leve alguma luz cariciosa
Aquelas primaveras tão sombrias.
Mas vendo a hesitação, o tom magoado
De quem lhe fala triste e comovido
Arrisca uma pergunta num gemido
«Senhor doutor é coisa de cuidado ?!»
Domitilla de Carvalho, 1917