Roelo Louw – Soul City (Orange Pyramid) 1967
As Laranjas no Uganda
Caminhando juntos, Morte e eu
vamos às compras de emicungwa
à noite, no mercado .
Cada cuidadosa pirâmide de fruta
empilha-se sobre cartão, iluminado
por velas. Morte tem os pés nús
e cobertos da sujidade
do caminho.
Falamos de pequenas coisas.
Como a mesquita e a meia-lua
montam sentinela
contra o céu sangrento. Que as mangas
em breve estarão maduras.
Digo-lhe que sei porque
fazem amor as pessoas quando
voltam para casa depois de um funeral. Porque
a atracção dos corpos ecoa as marés,
os olhos arregalados como sepulturas. A forma como os estames
da flor do fruto da paixão se retorcem para o alto,
desafiando o seu caule.
Pensando o tempo todo,
tacteando as formas espinhosas da jaca
de seiva peganhenta. Yesu,
o pulso mortal soando mais alto
do que o rufar de tambores, virais no sangue.
Com uma capulana por capa, Morte
Ergue a lança ancestral, cantando à boca cheia
de úlceras e de aço. Ele conhece os Túmulos
de Kasubi ,
Casa de Reis.
Os miúdos da rua andam por ali
de novo a roubar relógios.
Não há estrelas para contemplar.
Nkooye, diz Morte. Que cansaço.
Levanta-se como uma andorinha
da profundidade das ervas,
deixando uma chaga que nenhuma palavra pode cobrir.
Katherine Larson – in Radial Symetry (2011)
(Trad. H. Barbas 5.12.2013)