José no poço de Shoshannah Brombacher
Oh meu pai, sou o José
Pai! Sou o José
Oh pai!
os meus irmãos não me amam
nem me querem no meio deles.
Oh pai, atacam-me,
apedrejam-me
cobrem-me de insultos.
Os meus irmãos desejam-me morto
para que possam dar seus falsos louvores.
Fecham-me a porta na cara
e do teu campo fui expulso.
Envenenaram as minhas vinhas,
Oh pai!
Quando a brisa ao passar
me afagou o cabelo,
ficaram invejosos,
ofendidos contigo e comigo.
O que lhes fiz eu, pai,
em que os prejudiquei?
As borboletas descansam-me no ombro
o trigo inclina-se saudando-me
e os pássaros esvoaçam sobre as minhas mãos.
O que fiz de errado, pai
e porquê eu?
Foste tu quem me chamou José!
Eles empurraram-me poço adentro
e depois culparam o lobo.
Oh, pai! O lobo é mais misericordioso
do que os meus irmãos.
Fiz mal a alguém,
quando contei o meu sonho?
Com onze planetas sonhei,
e com o sol e a lua
ajoelhando-se todos perante mim.
(trad. HB 30.12.2008)
Versos do poeta palestiniano Mahmoud Darwish (1942-2008), um comentário ao Génesis (37,1-34), musicados por Marcel Khalife – aqui.