Ouvia-se a Rádio Liberdade como a rádio Caroline – a meio da noite, com um transístor debaixo dos lençóis. Ouvi Manuel Alegre antes de saber quem era. Li e ouvi poemas de O Canto e as Armas antes de saber de quem eram – tenho os primeiros saídos em 1974. Recebeu hoje merecidamente o Prémio A.P.E. de carreira – quanto a mim ainda mais justo por conservar e desenvolver uma voz épica à revelia de modernismos. Por este registo, há dois poetas que não poderiam ser de mais ninguém – Manuel Alegre e Natália Correia. Foi ela devidamente referida no discurso do laureado, invocando também Camões, e a língua como memória que há-de permanecer muito além de tropelias acordísticas. Um óptimo 25 de Abril.