Tenho andado silenciosa, sem fala, com as cenas políticas com que nos andam metralhando – os rodriguinhos, as fintas, o puxar a cadeira antes do incauto se sentar… E no cerebelo trago há dias a canção do Ary dos Santos/Paulo de Carvalho retomada pelo Carlos do Carmo: «Parecem bandos de pardais à solta/ Os putos, os putos/ São como índios, capitães da malta/ Os putos, os putos…».
O discurso do Senhor Presidente da República – que percebi todo, e aplaudo – deve ser muito bom porque alguns índios e capitães da malta sairam debaixo das pedras a estrebuchar. Deixo aqui um vídeo ilustrativo, menos kitsch que a situação, esperando a «ternura que volta»:
Os versos todos do Ary:
Uma bola de pano, num charco
Um sorriso traquina, um chuto
Na ladeira a correr, um arco
O céu no olhar, dum puto.
Uma fisga que atira a esperança
Um pardal de calções, astuto
E a força de ser criança
Contra a força dum chui, que é bruto.
Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.
As caricas brilhando na mão
A vontade que salta ao eixo
Um puto que diz que não
Se a porrada vier não deixo
Um berlinde abafado na escola
Um pião na algibeira sem cor
Um puto que pede esmola
Porque a fome lhe abafa a dor.
Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.
E ainda a variante pelo Trio Harmonia – http://youtu.be/qlQn7yTfy-k (decerto Freud explica)