(a Carlos Tavares)
Ó sabios, ó intrépidos coveiros,
Que andais cavando o pó da antiguidade,
E descobris, atléticos mineiros,
Os filões escondidos da verdade,
Vós, que passastes séculos inteiros
A procurar os pais da Humanidade,
E, colhendo os vestígios derradeiros,
Arrancastes o mundo à Divindade,
Vós c’o frio escalpelo da razão
Viestes despedaçar-me o coração
Da minha infância as ilusões, a fé;
E levastes-me a crer, cheio de dor,
Que o formoso ideal do meu amor
Era a neta gentil d’um chimpanzé.
Cyrillo Machado – Lisboa, 1880