imagens e sombras de santa maria madalena na literatura e arte portuguesas

- a construção de uma personagem: simbolismos e metamorfoses - helena barbas - fev.2003

 

[] Martim de Castro do Rio, s.d. (XVI) [1]

 

Magdalena de amor toda roubada

Confusa, triste, só, sem lus, sem guia

Busca fora de sy, quem nella hia

Com passos desiguaes, e alma abrazada

 

5      Não teme a noute, as guardas, a jornada

Porque não tinha vista nem sentia

Que o coração, seu mestre o possuhia

E os olhos sem o ver, não viao nada

 

Chorando chega emfim onde dezeja

10    Vazio acha o sepulchro, de Anjos cheyo

Que o lugar de Jesu so elle o peja

 

Mas como de o achar o melhor meyo

São Lágrimas de Amor,quer Deos que seja

Nelas viuo, quem morto buscar veyo.

 

[]


[1] Este soneto foi recolhido em Madrid [B.N.M. Ms. 3992, fól.55r; e Ms.4152, fól.3]. Aparece também em The Cancioneiro «Manuel de Faria». A critical Introduction and Notes, Edward Glaser, (ed.), (Münster, Westfallen, Aschendorffsche Verlagsbuchhandlung /Portuguiesische Forschungen der Gõrresgesellschaft,1968), pp.117-18. Segundo o Prof. Aguiar e Silva, anda  atribuido a Frei Agostinho da Cruz.