imagens e sombras de santa maria madalena na literatura e arte portuguesas

- a construção de uma personagem: simbolismos e metamorfoses - helena barbas - fev.2003

 

[] Alvaro Afonso de Almada, 1615

Sancta Maria Madalena

Á Mesma Sancta


Sancta Maria Madalena [1]

 

Com Lagrimas Maria que choraste

Prostrada aos pés de Christo por peccados,

Te foraão logo todos perdoados,

Quando por amor seu tudo deixaste.

 

5       E porque neste amor Deos agradaste

No Ceo te dá seus pés de ti buscados,

E pera nos cantar d’erros passados

Lagrimas, escritor na terra achaste.

 

Se por lagrimas Deos tens a teu rogo,

10     Pera as que tu choraste ao Ceo voarem,

Onde contigo estão eternizadas.

 

As mesmas cá na terra por Diogo

Em quanto o mundo for, homës durarem,

Em seu canto serão muy celebradas.

 

 


Á Mesma Sancta

 

Com Lagrimas ganhaste o Ceo na terra

Maria, que ja tës na eternidade

Gozando aos Pés de Christo a Divindade,

Que de todos os teus erros te desterra.

 

5       Por não temeres mais do tempo a guerra

Tens tão grande escritor na nossa idade,

Que em seu sublime verso na verdade

Lagrimas cantas, & amor, que em ti se encerra.

 

Das larimas choradas por tal Sancta

10    Tenho dor grande, & inveja juntamente

De quem as chora bem, & melhor canta.

 

E pois dellas cantar me não consente

O baixo estilo meu, tu me levanta

A ser de peccador bom penitente.

 

[]

 


[1] Dedicatória ao autor, apud Diogo Mendes Quintella, Conversam e Lagrimas da Gloriosa Sancta Maria Magdalena, & outras Obras Espirituais. Compostas pelo Licenceado em Canones, & Sacerdote.. Dirigidas ao Illustrissimo e Reverendíssimo Senhor D. Miguel de Castro Metropolitano Arcebispo de Lisboa dignissimo, (Lisboa: Vicente Alvarez.,1615),