imagens e sombras de santa maria madalena na literatura e arte portuguesas

- a construção de uma personagem: simbolismos e metamorfoses - helena barbas - fev.2003

 

[] Estevão Rodrigues de Castro, 1623 [1]

 

Magdalena tornada a melhor vida

Arde, não ve por quem, e se sospira,

sem saber quem do peito os ays lhe tira,

Apoz elles se vai toda rendida

 

5       Arde, e num tempo, o esprito que a convida

A compaixão de sy, a incita a ira

Contra si mesma, e quando os olhos vira,

Como se nunqua amara, ama, e duvida.

 

A té que hü sol mais puro, e mais fermosas

10     Flaminas, do peito as neves lhe desfação

Em lágrimas que fora aos olhos passem

 

Lágrimas mais que nunqua poderosas

Allagai gostos vãos que nunqua nasção

E regai estes bons que agora nassem.

 

[]

 


[1] In Rimas de Estevão Rodrigues de Castro dadas à luz por Francisco de Castro seu filho, dirigidas ao Illustrissimo Senhor Capitão Pedro Capponi, Cavaleiro do hábito de Santo Estevão... (Florença:Zanobro Pinhoni, Mercador de Livros, 1623), fol.23;