imagens e sombras de santa maria madalena na literatura e arte portuguesas

- a construção de uma personagem: simbolismos e metamorfoses - helena barbas - fev.2003

 

[] António da Fonseca (Soares)/ Fr.António das Chagas [1]

 

  A hua moça lavando

 

Romance.

A lavar a roupa ao rio

vai Magdalena da praça

curta um tanto da vasquinha

Descalça pela calçada

5       Em que vai de pedra em pedra

leva os branco pés com lama

Prata com lama parece

Tela com lama de prata.

O cargo leva a cabeça

10     De baixo as douradas tranças

quem do ouro faz rodilhas

Mal fará caso de nada.

Chega ao rio, que suspenso

Pasma, e de vê-la pára

15    Por ser ela mais corrente

que a mesma corrente d’água

Lava as delgadas camisas

que na calenda passada

Me pôs para não perdê-las

20     Não sei que sinal de nácar

De um gibão de riscadinho

Pega, donde a vista acha,

Tantos riscos no lavar,

Quantos, quando ela os lava.   /Fol. 122

É grande a carga de roupa

25    que a um tempo enxuga, lava

com por-lhe os olhos

com por-lhe as mãos faz alva

 

Estribilho:

Lavandeira bela

De rosto tão lindo

O rio corrente

De vos se vai rindo.

Lavai essa roupa

Lavandeira bela

Batei-a no peito

que é mais dura pedra

[]


[1] António da Fonseca (Soares) - (1631-1682).Regressa do Brasil em 1656. Professa em 1663 como Frei António das Chagas. Propõe-se como data do poema 1656-1663. O Prof. Vitor M. Aguiar e Silva - Op. Cit. Apendice II (p.533) - na listagem que apresenta das «Obras poéticas de Frei António das Chagas que não figuram na bibliografia de António da Fonseca Soares (Frei Antonio das Chagas) organizada pela Profª. Maria de Lourdes Belchior Pontes"», atribui-lhe, como item nº. 10, o romance: «A Lavar roupa ao rio» [BA. 49-III-78; p.178; e BA 49-III-83, p.376]. Este poema foi transcrito de um manuscrito em Évora [B.P.E., cód. CXXX/1-17] (fol.121v-122);