Laura de Anfriso de Manuel da Veiga Tagarro

- poesia e história - helena barbas - Maio 2003

 

 

  [I - O Autor e o Mecenas]

 

   3. O Mecenas-Narratário

   i - Conclusões prévias

 


]  i - Conclusões prévias [

      A partir de tudo o que ficou dito parcas são as conclusões que se podem tirar. Que o licenciado Manuel da Veiga seria originário de família nobre, um ramo dos Veigas que chega ao século XVI sem grandes meios de subsistência, fosse devido a perseguição política (é sucessivamente reiterado o seu nacionalismo num período de ocupação estrangeira), fosse como resultado da derrota em Alcácer-Quibir (caso tivesse ligações com os Noronha, o seu cognome, Tagarro, referisse um topónimo africano, ou algumas afirmações textuais fossem auto-biográficas), não foi confirmado. Nem ainda no que respeita ao seu nome, será pertinente afirmar que Tagarro seja um topónimo, embora apareça qualificado de Português ou Lusitano, pois também pode referir um estatuto social. Talvez que, com a capacidade de síntese que possuem as denominações de origem popular, o apelido congregasse essas várias hipóteses.

      A tradição de que recebera ordens não será de pôr de parte, tanto devido às referências simbólicas dos elogios que lhe são feitos, ou ainda à possibilidade de o testamento encontrado – com uma provável data de abertura: 4 de Novembro de 1635 – ser o seu, como à profundidade e profusão de referências de carácter religioso que se fazem nos poemas.

      Não foi possível construir uma biografia, nem fica esclarecida a lenda, mas esgotaram-se algumas alternativas que pela negativa permitem concluir quem não foi Manuel da Veiga. Todavia, sua prática de escrita vem confirmar a alta conta em que é tido pelos autores do prólogo e epilogo, o seu grande saber, bem como o patriotismo e nacionalismo da facção que alimenta a "corte na aldeia" em Vila Viçosa no período filipino. Misterioso é ainda o facto de não ser referido na obra de autores seus contemporâneos, com quem se cruza na corte brigantina.

      Como que em analogia com o destino do(s) seu(s) mecenas – conquanto por motivos e processos inversos – Manuel da Veiga tornou-se uma "nota à margem" na história da literatura: não fosse a obra e o nome ter-se-ia perdido no anonimato do colectivo. E porque a obra permaneceu, prova a existência da entidade histórica que lhe deu origem.

            No que respeita ao(s) D. Duarte(s) de Bragança, tio e sobrinho identificam-se numa posição de secundaridade relativamente ao título, embora a História insinue que estariam mais preparados que os primogénitos para assumir a chefia do país e recuperar a independência. Pela coincidência entre presenças e ausências do "pastor" dos versos na sua "Aldeia" e do Marquês de Frechilha em Portugal, torna-se, desde já, mais provável que este fosse o mecenas principal de Tagarro, ideia reforçada pela coincidência de denominações (Anfriso) entre este e o mecenas de Lope de Vega.

[] H.B.[]