Laura de Anfriso de Manuel da Veiga Tagarro

- poesia e história - helena barbas - Maio 2003

 

 

[IV – A Relação Poesia-História]

 

  1. A intenção épica em Tagarro

 


]  1. A intenção épica em Tagarro [ 

      Confrontado com o auge e gloria épicos atingidos por Os Lusíadas de Camões a poesia no seu mais alto expoente ao serviço da história para perpetuar as façanhas de um povo, que a história prova como errada pelo desastre de Alcácer Quibir Manuel da Veiga está numa posição triplamente ingrata: a nível literário, porque será pouco provável conseguir ultrapassar a qualidade do épico; a nível político, porque a perda da independência não oferece um tema de molde a ser cantado; a nível individual porque, pelas últimas razões, a posição do(s) mecena(s) será de expectativa e incerteza quanto mais elevada a sua categoria menos segurança oferece dado constituir uma maior ameaça para o pOder instituído; por outro lado, sendo o(s) herdeiro(s) em segundo grau, têm menos hipóteses ainda de vir(em) a ocupar o trono.

      Mas, gradualmente, torna-se explícita uma aspiração épica que as formas utilizadas já  deixavam adivinhar. O poeta revela que a sua voz pOderá superar as de Lino e Orfeu a «Homero escurecendo», imitar Virgílio em estilo «grande e raro» diferente do «rústico exercício», dos «cantos do chão» do presente. Éclogas e Odes apresentam-se, então, como o "rascunho" de uma epopeia que apenas espera os feitos guerreiros de D. Duarte. O narrador reconhece ainda a sua obra como um «ensaio do futuro» quando, chegados os tempos saturninos, a destino mais luminoso corresponderão melhores versos em que o "eu" cantará a «Imperial genealogia» dos Braganças. Todas estas afirmações vão ser, sucessivamente, reiteradas ao longo dos poemas, chegando-se numa Ode (I.10) a glosar Os Lusíadas, "re-dirigindo-os" a D. Duarte.

            Tagarro consegue usar a história na poesia – busca a síntese épica – da melhor maneira que o seu tempo lhe permite. O recurso ao "epilion" e o (ab)uso de citações para além de um comedimento aparente nos encómios, representa um estratagema engenhoso para alcançar o objectivo primeiro que se propõe: cantar um indivíduo que aspira a um lugar na história, instando-o a que o conquiste. Este indivíduo é D. Duarte de Bragança que, com o passar do tempo, acaba por preencher todas as condições do anti-herói, a começar pela dificuldade de ser distinguido de familiares seus homónimos, com os quais é depois – como se tem tentado demonstrar – premeditadamente com-fundido.

[] H.B.[]