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[IV – A Relação Poesia-História]
2. O(s) Mecenas
2.1 O(s) Mecenas na obra
2.1.1 Nas éclogas
2.1.2 Nas Odes
2.2 Anfriso como personagem histórica
] 2. O(s) Mecenas [
Uma das constantes dos mecenas e doadores do Renascimento é a afirmação do poder, a tendência nítida para a identificação. Os mecenas distinguem-se dos meros doadores pela simples razão de que aqueles tem a possibilidade de ter uma plêiade de artistas e humanistas ao seu serviço, contribuindo de formas variadas e constantes para a exaltação dos patronos; os doadores são mais modestos, já que se limitam a encomendas saltuárias. No entanto, as intenções de afirmação são as mesmas, pois: «...os Reis, os demais Príncipes, os tiranos e os Papas procuram o prestígio indispensável para a conservação do poder.» [1].
D. Duarte desempenha assim o papel de mecenas, e a poesia de Tagarro preenche essas exigências ainda na tradição renascentista. A pequena corte dos Braganças – a de D. Teodósio, em Vila Viçosa, e a de D. Duarte, muito breve, em Évora – à semelhança do que acontecia na Florença dos Médici, cumpre uma função não apenas cultural, mas também política, desenvolvendo discretamente o nacionalismo a esses dois níveis:
A arte serve os fins da política através de um racionalizado processo de cálculo; é como uma empresa que a converte em instrumento de umas novas funções entre as quais a política e a diplomacia são, provavelmente, das mais notórias. [2]
Justifica-se que alguns dos poemas apareçam como excessivamente laudatórios, ou como resultado de uma encomenda, que tem por fim ostentar, publicamente, a glória e o valor heróico, exaltar a "virtú" do Príncipe. E também que, por vezes, a partir da sua impotência os autores exerçam pequenas vinganças: no caso de Tagarro (e também se pode dar como exemplo Damião de Góis, na sua Crónica d'El-Rei Dom Manuel), que se cumprem em notas de rodapé a poderem passar despercebidas a leitores mais apressados ou menos informados.
Por outro lado, as exaltações acabam por se tornar formulaicas, "lugares comuns", "clichés" retóricos, aplicados de modo indiferenciado, a todos os mecenas, tornando difícil a distinção entre estes, no caso de o poeta mudar de protector (e mais ainda dando-se o segundo ser, não apenas da mesma família, mas ainda possuir o mesmo nome), como se pretende mostrar aconteceu a Manuel da Veiga.
[] H.B.[]
[1] M. C. Mendes Atanázio, A Arte do Manuelino, Editorial Presença, Lisboa, 1984, p.31.
[2] Vitor Nieto Alcaide, e Fernando Checa Cremades: «El arte sirve a los fines de la politica a través de um racionalizado proceso de cálculo; es como una empresa que lo convierte en el instrumento de unas nuevas funciones entre las quales la politica y la diplomacia son, quizá, de las más notorias.» El Renacimiento - Formación y crisis del modelo clássico, Istmo, Madrid, 1985, p.25-26.
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