Laura de Anfriso de Manuel da Veiga Tagarro

- poesia e história - helena barbas - Maio 2003

 

 

[IV – A Relação Poesia-História]

 

 2. O(s) Mecenas

    2.1  O(s) Mecenas na obra

       2.1.1  Nas éclogas

       2.1.2  Nas Odes

    2.2  Anfriso como personagem histórica

 


]  2. O(s) Mecenas [ 

        Uma das constantes dos mecenas e doadores do Renascimento é a afirmação do poder, a tendência nítida para a identificação. Os mecenas distinguem-se dos meros doadores pela simples razão de que aqueles tem a possibilidade de ter uma plêiade de artistas e humanistas ao seu serviço, contribuindo de formas variadas e constantes para a exaltação dos patronos; os doadores são mais modestos, já que se limitam a encomendas saltuárias. No entanto, as intenções de afirmação são as mesmas, pois: «...os Reis, os demais Príncipes, os tiranos e os Papas procuram o prestígio indispensável para a conservação do poder.» [1].

      D. Duarte desempenha assim o papel de mecenas, e a poesia de Tagarro preenche essas exigências ainda na tradição renascentista. A pequena corte dos Braganças a de D. Teodósio, em Vila Viçosa, e a de D. Duarte, muito breve, em Évora à semelhança do que acontecia na Florença dos Médici, cumpre uma função não apenas cultural, mas também política, desenvolvendo discretamente o nacionalismo a esses dois níveis:

A arte serve os fins da política através de um racionalizado processo de cálculo; é como uma empresa que a converte em instrumento de umas novas funções entre as quais a política e a diplomacia são, provavelmente, das mais notórias. [2]

Justifica-se que alguns dos poemas apareçam como excessivamente laudatórios, ou como resultado de uma encomenda, que tem por fim  ostentar, publicamente, a glória e o valor heróico, exaltar a "virtú" do Príncipe. E também que, por vezes, a partir da sua impotência os autores exerçam pequenas vinganças: no caso de Tagarro (e também se pode dar como exemplo Damião de Góis, na sua Crónica d'El-Rei Dom Manuel), que se cumprem em notas de rodapé a poderem passar despercebidas a leitores mais apressados ou menos informados.

          Por outro lado, as exaltações acabam por se tornar formulaicas, "lugares comuns", "clichés" retóricos, aplicados de modo indiferenciado, a todos os mecenas, tornando difícil a distinção entre estes, no caso de o poeta mudar de protector (e mais ainda dando-se o segundo ser, não apenas da mesma família, mas ainda possuir o mesmo nome), como se pretende mostrar aconteceu a Manuel da Veiga. 

[] H.B.[]


[1] M. C. Mendes Atanázio, A Arte do Manuelino, Editorial Presença, Lisboa, 1984, p.31.

[2] Vitor Nieto Alcaide, e Fernando Checa Cremades: «El arte sirve a los fines de la politica a través de um racionalizado proceso de cálculo; es como una empresa que lo convierte en el instrumento de unas nuevas funciones entre las quales la politica y la diplomacia son, quizá, de las más notorias.» El Renacimiento - Formación y crisis del modelo clássico, Istmo, Madrid, 1985, p.25-26.