Laura de Anfriso de Manuel da Veiga Tagarro

- poesia e história - helena barbas - Maio 2003

 

 

 [II – A Obra e a Crítica ]

 

 2. A Crítica

     2.1  Uma leitura tradicional

     2.2  Uma leitura linguística

     2.3  Outras referências

 ii - Conclusões prévias

 


]  ii - Conclusões prévias [ 

      Pelo que atrás ficou dito, parece evidente que Laura de Anfriso de Manuel da Veiga Tagarro não deixa de suscitar controvérsias. A nível editorial, pela dúvida sobre o possível acrescento posterior a 1627 do último livro de Odes, e ainda pelos problemas de leitura do texto desencadeados pela presença ou ausência das notas marginais.

      Será a questão das notas que se afigura fundamental para as diversas interpretações dadas ao texto, bem como para a sua definição periodológica: se presentes, a construção aponta para finais do Renascimento, para uns últimos laivos de exacerbado classicismo; se ausentes, os versos perdem a sua dimensão intertextual evidente de ligação pedante aos modelos do passado, esvaziando-se da sua erudição, tornam-se hipérboles artificiosas.

      Daqui resultará a dificuldade de enquadrar Tagarro num período literário específico, já que o seu livro é editado entre a «segunda e terceira década» do século XVII – dentro dos parâmetros de Aguiar e Silva – mas grande parte dos poemas terá sido escrita entre a primeira e segunda décadas, que aquele autor refere como limite do Maneirismo. [1]

        No que respeita aos aspectos prosódicos detecta-se uma grande uniformidade que revelará uma tendência ao classicismo, apoiada pela intenção épica, que, no entanto, vai de par com um artificiosismo pastoril anacrónico – por ser já quase barroco, ou ainda excessivamente medieval.

      Também o facto de o texto se assumir como «à clef», a que se associa a sua intenção oracular e sagrada, não coincide com o cultismo embrionário das citações pedantes. Incongruente é também apresentar-se como um manual filosófico-amoroso, e simultaneamente construção "monstruosa", porque elaborada a partir de fragmentos alheios.

            Todas estas questões, embora não verbalizadas, se reflectem nas opiniões da crítica sobre este autor. Para além do problema biográfico e mecenático, não chegam a acordo nem sobre a qualidade dos versos deste autor, nem sobre a sua inserção num período ou escola literários.

[] H.B.[]


[1] V. M. Aguiar e Silva, Teoria da Literatura, Almedina, Coimbra,1986 p.479.