Laura de Anfriso de Manuel da Veiga Tagarro

- poesia e história - helena barbas - Maio 2003

 

 

[ III – Bucolismo e Intertextualidade ]

 

 4. O Caminho para o desengano

    4.1  O desengano e a escrita

    4.2  Os “Santos Desenganos” em Laura de Anfriso

iii - Conclusões prévias


]  iii - Conclusões prévias [

      De e acordo com tudo o que para trás ficou dito, ter-se-á provado a importância das notas e da sua função, que o texto é construído com recurso massivo à intertextualidade, e que se organiza em torno de conceito gradativo e plural de "desengano". Na sua fase final, o conceito aponta para um estado de "morte-na-vida", indiferença perante as tentações do mundo e porque não, do demónio e da carne uma ataraxia que se pretende identificar com uma situação bucólica, de inocência adâmica e paradisíaca:

Na idade de Ouro, a harmonia entre a razão e as outras faculdades do homem era perfeita; nesse sentido, no intuito de alcançar novamente a perfeição dessa harmonia, o bucolista situa a idade de ouro na vida rústica dos pastores e cria ali um Éden de natureza amena, onde o homem vive sereno e liberto das paixões. [1]

            Poder-se-á, então, afirmar que o estado de desengano corresponde a uma "idade de ouro" individual que serve de contraponto à manifestação colectiva desse mesmo mito, já aqui indiciada pela intenção épica que orienta a estruturação dos textos. Uma e outra idades aparecem simbólica e directamente relacionadas com a figura feminina de Diana/Astreia neste texto, sob a hipóstase de Laura e sujeitas a uma transformação "ao divino" , uma Laura apaixonada por um Cristo apolíneo, que traz consigo a insinuação de um incesto sagrado, como adiante se tentar  provar.

[] H.B.[]


[1] Mª. de Lurdes Belchior, Op. Cit., p. 33.