Laura de Anfriso de Manuel da Veiga Tagarro

- poesia e história - helena barbas - Maio 2003

 

 

[IV – A Relação Poesia-História]

 

 2. O(s) Mecenas

    2.1  O(s) Mecenas na obra

       2.1.1  Nas éclogas

       2.1.2  Nas Odes

    2.2  Anfriso como personagem histórica

 


]  2.1 O(s) Mecenas na obra [ 

      Logo na "Carta Dedicatória", um D. Duarte é comparado a um outro seu homónimo, o filho de D. Manuel. Este Infante (1515-1558), biografado por André de Resende [1], casa em 1536 com D. Isabel de Bragança, irmã de D. Teodósio I. Deste casamento nasce D. Catarina – mãe de D. Teodósio II e D. Duarte – a concorrente de Filipe II na pretensão ao trono de Portugal (vidé ponto I.3)

      A partir dos vv. 141, é descrito o comportamento heróico de D. Teodósio II – que com apenas 11 anos é enviado para a guerra, em substituição de seu pai. D. João acompanha D. Sebastião a Africa em Setembro de 1574, mas por motivo de doença não o pode fazer mais tarde. É ainda referido D. Fernando (2º. Duque do nome), o Condestável que acompanhou o Infante Santo a Ceuta [2]. Ao avô (D. Duarte) e ao pai (D. João), acrescenta-se como «exemplum» a figura do tio, D. Jaime, falecido em Alcácer-Quibir. À aura de martírio e honra que se cria em torno da Casa de Bragança, agravada pelo facto de o primeiro D. Jaime ter sido jurado príncipe herdeiro do reino em 1498, acrescenta-se uma obrigação e responsabilidade, não apenas para com o país, mas para com a libertação de Africa. Tarefa que, a nível de superfície, D. Duarte de Guimarães, (em substituição de Frechilha) é instado a cumprir.

      Ainda neste poema aparecem referências à sacralidade de D. Duarte, especialmente nas notas que citam Samuel. Ao ser comparado ao rei-pastor – que não tinha direito ao trono por consanguinidade, mas o recebeu por unção divina – o Bragança é instado a aspirar ao cargo real, porque assim estará igualmente predestinado por estigma divino.

            É nesta écloga que se torna suspeitoso o modo pouco claro como são referidos os sucessivos Duartes, o que leva a desconfiar de uma obscuridade premeditada. Se o verdadeiro mecenas – Duarte de Frechilha – morre no momento em que a obra está no prelo, não teria sido difícil retirar ou alterar alguns versos. Essa manipulação do texto dedicatório acabaria por determinar todos os restantes encómios em função do seu (segundo) destinatário, absorvendo a figura de um hipotético, e diverso, antecessor.

[] H.B.[]


[1] André de Resende, Obras Portuguesas, Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa, 1963.

[2] D. Francisco Manuel de Melo, Op.Cit., p.98; e António Caetano de Sousa, Op. Cit., Vol.IV,p.83-95.